sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

DICAS DE LEITURAS EDIFICANTES PARA CAPELANIA

Para (melhor) enfrentar o sofrimento, de Elben Lenz César (Editora Ultimato, 2008, 128 páginas). Às vésperas de completar 80 anos de idade, o autor é mineiro e pastor presbiteriano, fundador da Revista Ultimato – que acabou de completar 40 anos de grande tiragem em circulação nacional. Ele também é autor de muitos livros no gênero devocional. Com sua rica e profícua experiência pastoral, o Rev. Elben César fez este livro para tratar a respeito da resistência de Jó em meio à dor. O resultado é uma obra muito corajosa e que navega contra a corrente de uma moda que afirma que o crente não sofre. O autor diz que, diante do sofrimento, toda pessoa precisa desabafar. O livro nos mostra a diferença entre o desabafo (que não é pecado), a confissão (que é mandamento bíblico) e a murmuração (que é pecado grave). Com uma séria e profunda reflexão que aborda a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse, percebemos como pessoas tementes a Deus, e que guardavam seus mandamentos, também passaram pela experiência do sofrimento humano. O autor, utilizando-se de variadas versões da Bíblia, consegue uma linguagem acessível para todos os níveis de escolaridade e nos traz uma abordagem moderna e contextualizada sobre o sofrimento do velho patriarca de Uz. Ele divide a obra em 19 meditações curtas que nos fazem ler o livro de uma vez, mas que nos obrigam a voltar procurando as partes mais lindas e mais ternas de suas páginas. Como grande conhecedor das doutrinas cristãs, o Rev. Elben César encontra motivos para expor doutrinas bíblicas como o pecado, a graça, a santidade e a soberania de Deus, a morte, o juízo, a ressurreição e a vida eterna, que ele chama de “plenitude da salvação”. No Tempo de Quaresma, quando meditamos sobre o sofrimento de Cristo, está aí uma indicação que muito pode enriquecer a nossa reflexão.

Cristo e o sofrimento humano, de Stanley Jones (Editora Vida, 2006, 160 páginas). Evangelista e missionário metodista estadunidense que, dos seus 89 anos de vida, mais de 50 foram dedicados à obra missionária de evangelização da Índia. Stanley Jones (1884-1973) chegou a ser considerado “o Billy Graham da Índia”. Em 1928, ele foi eleito Bispo da Igreja Metodista, mas renunciou 24 horas depois. Foi algumas vezes indicado para o Prêmio Nobel da Paz. Também era amigo do líder hindu Mahatma Gandhi, e chegou a escrever uma biografia sobre ele que influenciou profundamente a prática política e pacifista do pastor batista Martin Luther King. Aqui no Brasil, alguns dos seus 28 livros já foram traduzidos para o vernáculo. O primeiro que li foi O Cristo de todos os caminhos, no qual o autor realiza uma profunda investigação sobre o Pentecostes. Depois eu li O Caminho, excelente livro devocionário anual. Infelizmente, estes dois estão esgotados. Os mais recentes por aqui são Jesus é Senhor, obra na qual se enfatiza a radicalidade do discipulado cristão. Mas é em Cristo e o sofrimento humano, que ele aborda mais profundamente os dramas e dilemas humanos. Por isso, é preciso saber que “o sofrimento é uma experiência inevitável na vida humana. Não há quem escape dele”, como diz o prefácio do Rev Miguel Rizzo. Como em todos os livros de Stanley Jones, este também é pródigo em ilustrações colhidas no cotidiano. O autor analisa o sofrimento e os conceitos de “carma” e de “retribuição” presentes na teologia hindu para depois abordar o problema na perspectiva cristã. Partindo da cura do cego de nascença, ele afirma que “a doença não é necessariamente um sinal da ira de Deus, ou do seu castigo, mas pode ser uma oportunidade ‘para fazer as obras de Deus’ ”. Outra constatação: “Quando Jesus se encontrava suspenso na cruz, Deus não o livrou. Mas fez algo melhor”. Quer saber o que foi? Leia o livro! Excelente obra para quem quer se apropriar da resposta cristã ao problema do sofrimento.

Cabe aqui ainda a apresentação de C. S. Lewis e suas duas obras sobre a teologia do sofrimento: O problema do sofrimento (Editora Vida, 2006, 176 páginas) e A anatomia de uma dor (Editora Vida, 2007, 96 páginas). Considerado um dos gigantes intelectuais do século XX, o irlandês C. S. Lewis (1898-1963), foi ateu e agnóstico antes de se converter a Cristo, na Igreja Anglicana. Professor de literatura medieval na Universidade de Oxford, ele também foi o autor de As crônicas de Nárnia e de muitos livros de contos infantis. Mas também escreveu sobre teologia para adultos. Seus mais de 40 livros, traduzidos para mais de 30 idiomas, já venderam mais de 200 milhões de exemplares. Até pouco tempo, os mais conhecidos no Brasil eram Milagres, no qual ele faz um apanhado sobre as visões do naturalismo, do materialismo e do cristianismo acerca dos milagres; e Cristianismo puro e simples, em que ele faz uma viagem fantástica pelo mundo da Filosofia e da Literatura para apresentar as propostas concretas do Cristianismo. Em 1940, no início da Segunda Guerra Mundial, ele escreveu e publicou, sob encomenda, O problema do sofrimento. De cunho filosófico, de rebuscada e profunda linguagem teológica, dirigindo-se para pessoas familiarizadas com Teologia e Filosofia, C. S. Lewis fez um livro altamente especulativo, no qual ele se expõe e chega a dizer: “O leitor bem que gostaria de saber como me comporto quando passo pela experiência do sofrimento, e não pela experiência de escrever livros sobre o assunto”. O autor estava certíssimo. Em 1961 ele publicou A anatomia de uma dor, livro que retratava a experiência do luto de um homem desesperado. É que em meados de 1950 ele se casou com uma escritora estadunidense, mas o casamento durou apenas três anos, pois a mulher veio a falecer. Daí, então, chegaram todas as perguntas fundamentais sobre Deus, sobre a vida, sobre a morte, sobre o amor e sobre a justiça de Deus. Questionando a tudo e a todos, C. S. Lewis escreveu, em linguagem simples e acessível, um diário que se transformou no livro que ora apreciamos. Recomendado para crentes de todas as idades, pois a experiência da dor e do luto está reservada para todos nós.

LAMENTO – a fé em meio ao sofrimento e à morte, de Nicholas Wolterstorff (Editora Ultimato, 2007, 112 páginas). Este livro conta a experiência de sofrimento pela morte do filho de um escritor e filósofo cristão, professor de importantes universidades nos EUA e na Holanda. Nicholas Wolterstorff nasceu em 1932, nos EUA. Seu filho Eric era arquiteto e morreu aos 25 anos, quando praticava alpinismo na Áustria. O livro é escrito no estilo de uma carta para um amigo muito querido. Citando Santo Agostinho, o autor diz que “as lágrimas” são como “uma almofada para o meu coração”. E arremata: “Olharei o mundo através das lágrimas. Talvez eu veja coisas que eu não veria com os olhos secos”. Dessa forma, quem se dispuser a ler este Lamento, disponha-se a chorar também. Não chorar por Nicholas ou por Eric, mas por si mesmo, por sua condição, como nas palavras de John Donne tão bem colocadas nesta obra: “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu estou imerso na humanidade; portanto, nunca perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti”. Por causa disso, Nicholson desabafa: “Naquele dia quente de junho sepultei a mim mesmo. Foi sobre mim que jogamos terra. Foi a mim que deixamos para trás depois de ler os salmos”. Desse ponto em diante, o autor parte para compreender as palavras de Cristo: “Bem-aventurados os que choram”. Como explicar isso? “Deus não é somente o Deus dos sofredores, mas o Deus que sofre”. Ele é “o Deus que sofre conosco”. “Em vez de explicar o sofrimento, Deus participa dele”. Assim sendo, “ser humano é ser uma imagem de Deus”. É saber que “no sofrimento todos somos um”. “O amor em nosso mundo, é um amor que sofre. Alguns não sofrem tanto porque não amam tanto”. “Deus é amor. É por isso que Ele sofre”. Mas que ninguém venha dizer “que a morte não é tão má, porque é, sim. A morte é terrível, demoníaca”. No entanto, Nicholas sabe que “o desespero e a amargura se formam no vale do sofrimento. Mas é lá também que se plasma o caráter. O vale do sofrimento é a forja da alma”. A leitura deste livro terno e verdadeiro deveria ser recomendada para todas as idades.

O cristão e a angústia, de Hans Urs Von Balthasar (Editora Novo Século, 2000, 88 páginas). Reconhecido como um dos grandes arquitetos e incentivadores do Concílio Vaticano II, o sacerdote suíço, Von Balthasar (1905-1997), é considerado “um dos mais importantes teólogos católicos de todos os tempos”. Acredita-se que ele seja o “construtor de uma das mais belas catedrais intelectuais da história do pensamento cristão”. Como amante e pesquisador da tradição e do magistério da Igreja, ele se tornou um profundo conhecedor das coisas que amava, vindo a ser um pensador conservador e progressista, simultaneamente. Comprovando o seu caráter ecumênico cristão e sem preconceito, travou uma sólida amizade com outro suíço, o teólogo reformado Karl Barth, na época em que morou na Basiléia. Talvez seja Balthasar o mais arguto crítico e conhecedor da obra do pensador protestante dinamarquês Sören Kierkegaard. É neste pensador que o nosso autor vai buscar os elementos essenciais para escrever este livro tão importante. O cristão e a angústia é uma obra escrita por um teólogo que argumenta com base nos conceitos profundos da Filosofia, sendo indicada para pastores, seminaristas e professores de Teologia, Filosofia e áreas afins. Para explicar “o que é angústia”, Balthasar parte do pressuposto kierkegaardiano que “relaciona a angústia com o conceito bíblico-cristão de pecado”.  Daqui por diante ele vai elaborar outros conceitos como “angústia dos justos”, “angústia dos maus”, “angústia cristã”, “angústia da cruz”, “angústia do pecado” ou “angústia natural”, “angústia mística” ou “angústia sobrenatural”. Tudo isso vem ressaltar a Palavra do Cristo: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo: Eu venci o mundo!” (Jo 16.33), bem como o seu mandamento contra o medo que nos incentiva a fé: “Não temas: Crê somente!” (Mc 5.36). Mas todos esses mandamentos contra o medo são válidos apenas para os crentes que sabem que o contrário do medo não é a coragem, mas a fé (Frei Betto). Finalmente, lembremos a exortação do Apóstolo João: “Aquele que ama, não teme, pois o perfeito amor lança fora todo o temor” (1Jo 4.19). Contudo, este caminho para se chegar à segurança terá que ser percorrido em todo o seu percurso, começando pelo medo, passando pela angústia e pela libertação da cruz, até que se chegue à perfeita “paz com Deus” (Rm 5.1). 

O sofrimento que cura, de Henri Nouwen (Edições Paulinas, 2ªed., 2002, 144 páginas). Sacerdote católico holandês, teólogo e escritor, Henri Nouwen (1932-1996) foi um homem simples que abandonou uma brilhante carreira acadêmica, na Universidade de Harvard, para se dedicar à vida comunitária junto a pessoas deficientes, entre os EUA e o Canadá. Sua obra mais famosa, mas que eu ainda não li, é A volta do filho pródigo. Segundo Osmar Ludovico, um pensador protestante brasileiro, “ninguém como ele soube fazer pontes entre a espiritualidade e mística clássica com mundo contemporâneo, entre a vida de silêncio e oração e a prática de boas obras, entre a erudição e a piedade”. Em O sofrimento que cura, o autor constroi e desenvolve o argumento de que “por meio de nossas próprias feridas podemos nos tornar fonte de vida para o outro”. Henri Nouwen escreve a partir do que ele viveu em companhia das pessoas sofredoras. Para início de conversa, ele nos diz “nenhum Deus pode nos salvar exceto o Deus sofredor”. Se por acaso você achar que este argumento seja muito forte e inaceitável, saiba ele está em perfeita harmonia com a cristologia dogmática extraída do Antigo Testamento, especialmente do profeta Isaías: “Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).  Falando aos pastores e capelães, o autor nos diz: “O ministro é chamado a falar das preocupações extremas da vida: nascimento e morte, união e separação, amor e ódio”.  E mais: “Um ministro não é um médico, cujo objetivo primário é eliminar a dor. Ao contrário, ele aprofunda a dor até o ponto em que possa ser partilhada. A principal tarefa do ministro talvez seja a de impedir que as pessoas sofram pelas razões erradas. Ele deve lembrar os outros de que eles são mortais e frágeis, mas também de que a libertação começa com o reconhecimento dessa condição”. Certamente que este é um excelente livro para encerrarmos o período quaresmal sabendo que sempre haverá lenitivo para nossa dor. É uma leitura recomendável para jovens e adultos de todas as faixas de escolaridade. 


Comentários do Rev. Maurício Amazonas, OSE

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